quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sobre perdoar...

       

    Afirma Aurélio que significa conceder perdão, renunciar a punir; absolver, ver sem despeito, sem inveja e acrescenta: trata-se de um verbo transitivo irregular.

-Que bacana sua definição Aurélio! Já desconfiava que sendo verbo, uma ação por natureza, tal atitude não poderia ocorrer de forma linear e pré-estabelecida e sim envolvida de complexidade que a constitui.

O perdão nasce da dor, da decepção e da tristeza. Da surpresa ruim e da falta de chão... Da constatação da humanidade do outro em sua porção cheia de falhas e imperfeições, do lado humano feito das sombras, da falta de empatia para com o próximo... Advém da dura realidade de que àqueles em quem depositamos afeição podem nos ferir, e das piores maneiras. Trata-se da retribuição do amor com desprezo e a indiferença, da falta de nobreza nas ações, do respeito nas palavras e da comunhão no silêncio. Não é fácil notar traços obscuros em quem se ama, perceber no amado, atitudes torpes, palavras gélidas e silêncios que isolam, mas é daí, deste emaranhado de sentimentos nebulosos que brota o perdão, assim como das nuvens escuras e pesadas brota a chuva... Que depois molha a terra de onde brotará vida.

-Já explico!

            Parafraseando novamente Aurélio, conceder perdão significa abster-se de punir, e sendo assim consiste em seguir em frente, bancar as decisões tomadas e tentar sanar as feridas sem para isso ferir ao outro. Trata-se então de escolher não tornar-se igual nos erros, não planejar causar dor semelhante, nem rebaixar-se  as leviandades. Sim! Perdoar é: apesar da dor, ver ao outro sem despeito, sem desejar-lhe mal algum, sem falar-lhe mal. Consiste em permitir que também ele siga, que cresça, que supere a pequenez de seus atos falhos e torne-se melhor consigo e com o próximo. Ainda que não sejamos nós “o próximo” a desfrutar destas evoluções. Conferir perdão é sem inveja permitir que o outro se reconstrua longe ou perto de nós, independente de se as lacunas por ele deixadas já tenham sido superadas ou preenchidas.

Perdoar é divino porque nos livra da mágoa, do orgulho. É algo semelhante a aceitar o envelhecimento e o passar dos anos, enxergando as rugas como sinal de vitória sobre o tempo e os acontecimentos e não como cicatrizes que tiraram a beleza leve e serena da face. Perdoar é um ato de amor que nos torna livres, livre como seres humanos normais e incapazes de esquecer o pecado, mas interessados em administrar honrosamente as perdas e seguir em frente... Perdoar e esquecer são coisas Deus, processos de desprendimento para o qual talvez ainda não nos sentimos totalmente prontos, mas ainda assim buscamos comtemplar...


Post de páscoa em homenagem a uma grande amiga que tem me ensinado muito sobre perdoar... Sua vida e atitudes são prova!